Ela emagreceu 102 quilos sem remédios ou cirurgia
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Sílvia Bonini conseguiu emagrecer 102 quilos em quatro anos com terapia e força de vontade
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Acredite, Sílvia realizou a proeza de passar dos 167Kg para os atuais 65Kg, em quatro anos, basicamente com força de vontade e terapia. Hoje, aliás, com a auto-estima lá no alto, fez questão de registrar sua história de luta e sucesso no recém-lançado livro Mulhersegura.com - 102 quilos a menos sem redutores de apetite e sem cirurgias (Artgraf Gráfica e Editora).
Quem acha que a autora recheou as páginas com alguns truques novos e dietas malucas, porém, pode se decepcionar. "Algumas pessoas compram o livro achando que vão descobrir receitas para cozinhar e tomam um tapa na cara", alerta Sílvia. O objetivo da antropóloga foi narrar a sua difícil relação com a comida desde a infância, seus problemas de saúde desencadeados pela obesidade e como, finalmente, conseguiu dar a volta por cima.
Sua relação com a comida
Aos 27 anos, no auge da sua obesidade, Sílvia (com 1,81m e 167 kg) recebeu um ultimato de seu médico: ou ela perdia peso ou poderia morrer. O aviso não foi dado simplesmente para assustá-la - e, quem sabe, motivá-la a emagrecer. A antropóloga já sofria com diabetes tipo 2, hipertensão e hipotireoidismo, desencadeados pelos quilos em excesso, e o seu estado de saúde só poderia piorar.
Por conta dessas doenças, aliás, ela também foi obrigada a abrir mão de inibidores de apetite e da redução de estômago. Ou seja, sua única saída foi recorrer à boa e velha recomendação: reeducação alimentar e a prática de exercícios físicos.
"Foi muito dolorido, eu tinha uma relação emocional muito forte com a comida, e tiraram isso de mim, de uma só vez", conta. A antropóloga se refere a todas as questões psicológicas que envolvem a obesidade (uma doença que está longe de ser um problema apenas estético e físico). Não foi à toa que a autora contou com ajuda de um especialista em tireóide, diabetes e hipertensão e de um psiquiatra, além do endocrinologista, durante seu processo de emagrecimento.
Segundo Sílvia, essa ajuda foi essencial para que ela começasse a se aceitar, a recuperar sua auto-estima e a lutar contra o problema. Afinal, ela sempre foi aquela criança gordinha que a família tanto gosta. Os familiares adoravam agradá-la com guloseimas e a incentivaram bastante a ter gosto pela comida.
"As pessoas herdam não somente os genes, mas o ambiente também", concorda o endocrinologista Márcio Mancini, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso). "A criança internaliza os costumes de alimentação da família", explica.
Só que, na escola, Sílvia e tantos outros gordinhos como ela precisaram lidar com as discriminações, os apelidos, a humilhação. Esse sentimento de não pertencer ao grupo costuma ser combatido, então, com a comida.
"O ato de comer ativa a área da recompensa e do prazer no cérebro que, quando estimulada, faz você se sentir feliz", explica a neurologista Denise Menezes, professora do curso de Psicologia do Desenvolvimento da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "É a mesma área estimulada com drogas ou quando se está apaixonado. Ela traz sensação de bem-estar, felicidade, plenitude."
Comer, portanto, virou um vício para Sílvia. "Fiquei escrava da comida, às vezes, nem percebia que estava comendo", desabafa. Silvia ingeria quatro mil calorias, diariamente, e reduzir esse nível para duas mil calorias foi um sacrifício. "No começo, eu me declarei morta, porque perdi a única relação que eu ainda tinha, que era com a comida", conta.
Processo lento e difícil
Desde pequena, a maneira que Sílvia encontrou de se proteger dos olhares preconceituosos e das provocações externas foi tornar-se uma menina agressiva, isolada. E esse jeito fez com que o processo de emagrecimento se tornasse ainda mais difícil.
Ela lembra que precisou, primeiro, admitir que precisava de ajuda e começar a enxergar quem era e por que estava agredindo a si própria (descontando suas frustrações na comida, inclusive) e as pessoas ao redor. "A maior dor da minha vida foi quando descobri que ninguém iria me salvar, que eu deveria tomar uma atitude. Chorei por três dias seguidos", conta.
Buscar ajuda na terapia, portanto, foi o primeiro passo para Sílvia começar a se mexer, a mudar suas atitudes frente à mesa e à vida. Segundo a neurologista Denise, quando o prazer de comer é uma tentativa de suprir alguma carência, a comida ingerida nunca será suficiente, porque sempre ficará a sensação de vazio. "Nesse caso, uma boa terapia ajuda a investigar qual é, afinal, a razão dessa compulsão alimentar", garante a especialista. Decifrada a mensagem, o tratamento fica mais fácil, não há mais razão para associar a comida a essa necessidade. O endocrinologista Mancini concorda, mas seu conselho é procurar ajuda o quanto antes. "Uma criança obesa tem mais chance de ter enfarte na idade adulta. A maior parte das crianças gordinhas vai ser um adulto gordinho", avisa.
A volta por cima
No início do tratamento, a antropóloga não conseguia andar um quarteirão sem ficar exausta. "Eu não conseguia me levantar para tomar banho de tantas dores no estômago, nas pernas, tinha dores de cabeça horríveis. Me sentia pequena, humilhada", confessa. Hoje, ela acorda 5h30 da manhã para uma caminhada de 8km e controla a alimentação (mas come de tudo, menos fritura, porque passa mal).
Também continua na companhia de dança flamenca que começou a freqüentar durante o tratamento. "Vou todos os dias, só saio de lá quando me arrancarem as pernas", brinca. "A pessoa precisa se adaptar às atividades físicas que lhe dão prazer. O importante é pensar que o que você vai ganhar com isso compensa a obrigação e rotina às quais você se impõe."
A melhor parte, segundo Sílvia, foi aprender a se respeitar e a se aceitar como é. Atualmente, só toma remédio para o controle do hipotireoidismo, nada mais. "Eu estou curada, espero estar assim até meus 100 anos", comemora.
Por entender que foi difícil e admitir que às vezes pensou em desistir, Sílvia dá algumas dicas para quem quer vencer a obesidade.
- O primeiro passo é assumir o seu peso. Diga "eu tenho 180 quilos, não estou feliz e quero ser melhor";
- não tenha medo de enfrentar o processo com a ajuda de um psiquiatra. Controlar a depressão e a ansiedade é fundamental;
- não tenha medo de dialogar com amigos e família, abrir o jogo com eles e exigir respeito. Não tenha medo de falar o que está se passando, que você está lutando contra isso;
- mesmo que erre, mesmo que desista em algum momento, levante e siga em frente.
Serviços
Silvia Bonini Regiani - antropóloga
Autora de Mulhersegura.com - 102 quilos a menos sem redutores de apetite e sem cirurgias
www.mulhersegura.com
Márcio Mancini - presidente da Abeso e endocrinologista do Hospital das Clínicas da USP
www.abeso.org.br/marciomancini
Denise Batista de Castro Menezes - neurologista e professora do curso de psicologia do desenvolvimento da PUC
www.neuromedmente-corpo.med.br
Obrigado mais uma vez Ciço, nosso correpondente magro